sexta-feira, 17 de julho de 2009

A comida em cabul


A pedido de muitas famílias, depois deste intervalo, marcado por muito trabalho, muitas festas e poucas horas de sono, cá estou para dar mais notícias dos meus dias em cabul. Não posso dizer que tenho sofrido com a comida na capital afegã, pois apesar de não haver carne de porco... o que realmente não me faz grande diferença, não gosto de carne de porco, é o meu lado muçulmano, a comida é em geral muito boa. Para além disso existem restaurantes com ementas francesas, indianas, chinesas, libanesas.... Hoje fomos a um restaurante simpático que até tinha flammekueche....(tarte flambée). Apesar de ser um adepto incondicional de tarte flambée não comi, pois tarte flambée só como na Alsácia... mas fiquei surpreendido por constar da ementa tal prato. Obviamente temos que ter cuidado com os vegetais e com a água... mas de resto... tudo normal, consegue-se encontrar um bom bife e os vegetarianos também não se safam mal por estas bandas. Os afegãos comem muito pão, o nan (meio nan na imagem). Não sou grande comedor de pão, pelo que fico surpreendido quando comem dois nan(s) inteiros à refeição. Tenho conversado com os meus colegas afegãos e ontem decidi almoçar com eles, sobretudo depois de ter ouvido alguns comentários racistas sobre a forma como se portam à refeição. Foi simpático e permitiu conhecer um pouco mais do que pensam sobre o seu país, sobre o mundo. Não pensamos de forma muito diferente, e é bom saber isso. Fiquei a saber que o espírito de família é muito forte no Afeganistão, e é inconcebível eles não cuidarem dos pais quando esses começam a ter poucas forças para cuidar deles próprios. A mulher fica quase sempre em casa, a cuidar dos filhos e das pessoas mais idosas. A falta de emprego para as mulheres acaba por impulsionar muito esse tipo de vida. Não sou adepto da mulher ter que ficar em casa ou não poder trabalhar fora dela, mas, será que não se cria um ambiente mais humano dando-se mais importância à família? Ficando alguém a cuidar da casa e da família (sendo ele homem ou mulher?). Afinal devemos olhar para eles de forma diferente quando há 30 anos atrás tinhamos uma sociedade muito parecida? Não é uma questão de religião, é uma questão de evolução social e económica.... mas será evolução?

3 comentários:

  1. Por favor, Manu, de tanto relativizar, e com o impacto normal que têm as amizades que se vão fazendo, não comeces a perder a realidade das coisas!!! As mulheres ficam em casa aí porque é suposto, porque é o que diz a religião deles, porque são consideradas inferiores e propriedade dos membros masculinos da familia, porque não tem direito a mais, nem sequer a existência própria quando os homens morrem, porque não podem sair à rua sem a companhia de um homem, ou sem estarem cobertas dos pés à cabeça!!!! Porquê? Porque não há emprego? Porque não têm cérebro? Porque são umas messalinas e fonte de todas as tentações? Pois.... não me parece! Aliás,... não são todos esses conceitos, criações da cabeça dos HOMENS! Pois. Que as mulheres queiram ficar em casa; que é verdade que são os pilares da família e hoje o seu papel por vezes faz falta, ok. Agora que ires para Kabul te faça suspirar pelo Portugal do outro tempo... scary!!

    ResponderEliminar
  2. Olá... esperava reacções ao texto, ainda bem que as há! Não estou a defender o sistema afegão, mas muitas vezes exageramos. Existe um problema de religião sim. Mas acredita que é sobretudo fora de cabul que se sente mais isso. Claro que o problema do emprego é um problema religioso na base.... mas era igual em Portugal há 30 anos atrás... ou não? O que quero dizer é que muitas vezes olhamos para estes paises com desconfiança como se nós tivessemos sido diferentes, eles terão o seu tempo de "evolução", temos que respeitar isso.... Não tenho saudades de Portugal há 30 anos... tenho receio do individualismo exacerbado, isso sim. O que queria dizer é que se pudessemos passar mais tempo com os nossos, e não digo que tenha que ser a mulher a fazê-lo, evitariamos a quantidade exagerada de velhos em lares a pensar se vale a pena viver e casais que não conseguem estar com os filhos e se encontram a milhas de distância dos avôs... Algo que respeito aqui é o valor que se dá à pessoa de idade, à família, algo que nós perdemos gradualmente, há o reconhecimento da experiência e a gratidão da educação recebida. A questão da mulher obviamente sou o primeiro a questioná-la, é uma questão de direitos humanos e aí, venha o que vier, serei o primeiro a opor-me à submissão, à violência... etc.. Apenas quis dizer que certos valores que nos associamos à evolução devem ser repensados. Há um meio-termo. Bjnhos

    ResponderEliminar
  3. By the way, há 30 anos era 1980, e a nossa sociedade não era NADA, mas NADA, NADA, parecida!!!! Eu tinha 10 anos; ouvia música e ía ao cinema; usava calções e camisolas de alças no Verão, e a minha mãe também; saía sozinha, sem ir presa por isso, e ía à escola (há vários anos) sem ninguém pensar sequer em me ralhar, quanto mais envenenar; tinha colegas rapazes com quem trocava bilhetinhos amorosos, sem risco de ser apedrejada; ía à piscina (mista!) e usava o bikini que entendesse, aliás, acho que na altura até só usava calções!; em 1980, fiz a minha primeira viagem, à Suiça, em todo o conforto (possível) e liberdade; não me sentia inferior aos rapazes, aliás, era tema em que nem pensava, apesar de ultrapassar quase todos na escola; o meu pai trabalhava e a minha mãe não, é verdade, mas o meu pai tinha todo o respeito pela minha mãe que sempre foi assertiva e independente e saía sozinha sem precisar de autorização; e sim, o meu pai não se levantava da mesa, ao jantar, e era eu quem lhe ía buscar o que faltasse, mas nem o meu pai considerava isso um direito nem eu, se "rabujasse", apanhava por isso, ou ficava fechada em casa; sonhava ser o que quisesse, porque era possível; falava nos assuntos ou lia o que queria, Etc, Etc, Etc, Etc.

    ResponderEliminar